Chegamos em Katmandu, no Nepal, numa noite de fevereiro de 2014, procedentes de Dubai. O aeroporto impressionou pela simplicidade, desorganização, sujeira e pelo fato de estar sem luz! Claro que na confusão custamos para nos dar conta que meu tripé fotográfico não havia chegado. Além de caro, uma peça fundamental para se fazer determinadas fotografias. Dirigi-me ao guichê de bagagem perdidas, afinal já tinha experiência nesse tipo de ocorrência. Óbvio que o atendente não falava inglês e limitou-se a me dar um papel, que seria a prova do extravio. Outro passageiro, também sem bagagem, traduziu-me que nossos pertences tinham sido localizados no aeroporto de Dubai e chegariam no próximo voo, por volta da meia noite. Eram 20h!
Até ali não havia percebido que, a exemplo de vários outros aeroportos da Ásia, nesse também apenas passageiros eram admitidos em seu interior. Acompanhantes, guias, etc tinham que esperar na rua. Pois bem, em posse do papelito saímos para nos encontrar com nosso guia. Ele estava ali e, informado sobre nosso contratempo, nos tranquilizou que alguém de sua agencia, ou do próprio hotel, viria a meia noite buscar o equipamento. Brinco que nos últimos anos, para explorar a Ásia, só temos viajado de excursão. Esclareço: nós dois, um guia, o motorista e um carro privativo. Tem sido esse o grupo da excursão. Desse modo entramos no veículo, para nos dirigir ao hotel e aí notamos que a falta de luz era generalizada e que pelo trânsito caótico, sujeira e barulho chegamos a pensar que estivéssemos novamente na Índia!
O magnífico hotel contava com uma atenta recepção que nos confirmou que providenciariam a busca do tripé, que não nos preocupasse e que pudéssemos relaxar no belo apartamento que haviam reservado para nós, bem como degustar o jantar em um de seus restaurantes.
De fato, confortável, luxuoso mesmo e com um restaurante grande, aprazível e com cara confiável. Relaxamos. Afinal, tínhamos em nosso currículo o fato de ter passado um mês na Índia sem qualquer evento gastrointestinal. Na ocasião o segredo fora comer sempre no hotel, nele preferir a ala ocidental dos bufês e sempre preferir frituras e cozidos. Nada cru ou manufaturado. Éramos, pois, doutores nesse tipo de sobrevivência, mas aqui vimos que além do serviço ser de primeira, tudo era aparentemente limpo. Então, degustemos. Para começar um teste que faço por todas as partes por onde passo: one dry martini, please. “Shaken, not stirred”, como diria o James Bond. Até agora, sempre acabo preferindo o que a Ana me prepara aos sábados, em Viamão. Não, o do Harry’s bar, de Veneza, faz sombra, apesar de eu detestar aquele cálice pequeno onde o servem. Mas isso é outra conversa, voltemos para nosso hotel, em Katmandu: alguns dias depois a Ana perdeu uma tarde de passeio, restrita a nosso apartamento e eu, com um quadro menos grave, fui obrigado a conhecer o que chamam de banheiro público no Nepal. Aliás, bem públicos, pois sequer têm porta. Percalços de viagem, que podem ser evitados com os cuidados devidos, mas apenas quem está arriscado a isso são pessoas que saem de casa, como é nosso caso.
Sim, na manhã do dia seguinte lá estava meu tripé na recepção e desse modo pudemos começar nossa exploração por Katmandu, Patan, Braktapur, Mahakali e Pokhara.
O que achei do Nepal? Uma maravilha. Fomos antes do terremoto e lamento o fato que vários locais e pessoas fotografados já não existirem mais. O povo é cordial, o país seguro para o turista e dar, uma vez mais, um mergulho na cultura hinduísta foi instigante. De mais impressionante, guardo na memória a visita ao Templo Pashupatinath. É lá que os corpos são cremados a céu aberto e a visita ao local nos faz submergir numa atmosfera carregada, inclusive de odores. É lá também que alguns locais se vestem a caráter para posarem para os turistas. Sobre eles uma historinha: meu guia havia me avisado que eu poderia fotografá-los quanto tempo quisesse, trocar quantas objetivas desejasse, mas que no final teria que pagar, pois eram profissionais e aquele seu jeito de ganhar o pão de cada dia. Constrangido com a situação, pois nunca paguei para posarem, perguntei quanto seria os honorários. Resposta do guia: uns U$2! Fotografei uma boa meia hora e tive a sorte de fazer duas excelentes fotos, uma delas já exposta no MARGS e hoje adornando o escritório de querido amigo.
Cheguei a pensar, sem nada comentar com a Ana, claro, em fazer a trilha até o acampamento de base do Everest. Desisti tanto pelo grau de dificuldade das trilhas, como pelo seu elevado custo.
Mas, essa viagem ao Nepal foi apenas o aperitivo. A meta principal era o Butão e a escalada que faríamos para visitar o Tiger’s nest.
Sérgio de Paula Ramos