Kyoto foi a capital imperial do Japão, local onde as tradições ainda são mantidas e onde existem cerca de 2000 templos, alguns com mais de 1000 anos de existência.
Tókio, a atual capital, é uma cidade cosmopolita, vibrante, moderna, alegre, bonita, com vida noturna. Uma metrópole que nada fica a dever às maiores do mundo.
Já Kyoto é completamente diferente e temos de vê-la sob o aspecto cultural e espiritual. É uma cidade quase feia. Não… é feia. Tem grandes avenidas, muitas cortadas por ruelas pequenas e antigas, numa mistura de antigo e novo, mas que não agrada. Os prédios são muito feios. Quando tentam fazer alguma inovação ficam piores. A cidade é quase cinza. Mas, numa cidade opaca, há enorme poluição visual. Os cartazes são muito cheios de dizeres e muito coloridos, algo que também nos choca.
Mas não se vai a Kyoto procurando arquitetura, mas sim pela sua cultura. Aí encontramos o verdadeiro Japão. Os templos são muito bonitos, a maioria em jardins belíssimos, irradiando paz e serenidade. Nos múltiplos templos que existem podemos observar a multiplicidade de espiritualidades que existe no Japão.
O Templo KINKAKUJI ou Pavilhão de Ouro é belíssimo. No entanto, no Templo de GINKAKUJI ou Pavilhão de Prata, onde faltou prata para cobri-lo e, portanto, não é prateado (verdade !), tem os jardins mais bonitos que vi em todo o país.
O Templo Kiyomizu é imperdível. No alto de uma montanha, com vista total de Kyoto, consta de vários pavilhões, todos muito trabalhados e bonitos.
No Santuário Yasaka, havia uma feira, onde vendiam de tudo, principalmente pedidos ou promessas. São engraçados estes japoneses: eles compram os seus desejos e colocam no santuário, para serem atendidos. E compram muitos desejos, que aliás são caros. Quer dizer, sem dinheiro, não tem desejo. Também vendem muita comida típica que não tivemos coragem de experimentar, mas que deixa o ar bem mal cheiroso.
Muito interessante foi o Caminho do Filósofo. Numa região antiga, na base da montanha, num local com vários Templos, temos um pequeno caminho, de cerca de 5 kilômetros, marginando um pequeno rio, no meio de casinhas antigas, verdadeiras. O local é de uma paz contagiante, nos fazendo refletir sobre nosso modo de vida. No meio do caminho encontramos o templo dedicado ao Rato, encravado na montanha, interessantíssimo.
No Castelo de Nijo, construído em 1603, também ficamos encantados com seus jardins.
Mas a vida em Kyoto é bem diferente. O jantar começa às 16,45h e às 17,30h os restaurantes estão cheios. Às 18,30h existe dificuldade de se conseguir local vago e às 21,00h estão fechando. Vejam que animação ! O melhor da comida são os frutos do mar.
Mas existe um lugar interessantíssimo para se ir jantar. É o Pantocho, pequena ruela, bem estreita, local onde antigamente existiam as Gueixas (dizem que ainda existem, mas procuramos e não as achamos) e hoje com restaurantes e bares. São muitos e todos completamente típicos. Se tira o sapato na entrada (minha meia estava furada), senta-se numa mesa baixinha, comunitária, mas onde o espaço entre as pessoas é bem grande, com um local mais fundo para pormos os pés. E a cerimônia do jantar é bem extensa. Inicia-se com salada, após sopa, depois o prato principal onde tudo vem cru e um braseiro para assarmos. Tudo muito lento, típico e agradável. Só que os bancos não tem encosto. O atendimento é super gentil, quase como se fossem gueixas.
Entre tantas antiguidades, existe a modernidade dos WC. Eles têm a tampa aquecida e precisamos fazer um cursinho para usá-los. O assento é aquecido, dando até uma sensação agradável no seu uso. Depois de usarmos podemos receber jatos de água, de diferentes intensidades e temperaturas, ao gosto do freguês, bem no buraquinho da saída… As mulheres também podem fazer o jato ir para o local do pipi.
O povo é sério e triste. Mas educado e cortês. Sempre são atenciosos e prontos a ajudarem um turista que não entende o seu alfabeto. E tudo é pontualíssimo.
Qualquer pedido diferente do usual funde a cuca deles. Saiu do manual eles não sabem o que fazer e ficam muito nervosos. Exemplo: um simples pedido de bebermos o resto do vinho do jantar no hotel, no bonito lounge do hotel, provocou uma série de reuniões e consultas aos superiores.
Não contei algo inimaginável: chegamos com o visto vencido. Como sempre quero fazer as coisas com bastante antecedência, fizemos o visto com mais de 3 meses de antecedência. O visto era todo escrito em japonês e não foi dito que só valia por 3 meses. Quando chegamos, já estava vencido, mas não sabíamos deste enorme detalhe. Imaginem a confusão que foi. Além de tudo, era dia 31 de dezembro. Eles, como esperado, não sabiam o que fazer. Queriam nos mandar de volta para o Brasil, mas a nossa passagem era toda complicada, pois estávamos numa passagem volta ao mundo. Depois de consultarem todas as autoridades do aeroporto, acabaram por nos dar um visto provisório de 15 dias, depois de assinarmos mil documentos. Neste tempo ficamos numa salinha somente com um banco azul desbotado. Nós e um travesti que estava sendo deportado.
Bem, agora estamos voando, pela Air China, para a frenética Shanghai, que imaginamos completamente diferente.
Jorge Ilha Guimarães