A Índia é muito difícil de ser descrita. Mas vamos tentar…
É intensa e densa. A cada instante, um susto. A toda hora, sentimos emoções, geralmente ruins. É populosa, muito populosa. É suja, muito suja. É muito pobre.
Quando estivemos na China, há poucos anos atrás, conseguimos entender e ver o seu enorme crescimento, o seu novo lugar no mundo. Aqui não conseguimos ver isto. Não se entende o lugar da Índia na nova ordem mundial.
O Povo. É feio. Parece sujo porque é sujo. É sujo porque não toma banho. Não toma banho porque não tem água. Todas as mulheres se vestem como Indianas, o que é bem interessante de ver. As solteiras não podem usar muitas cores, para não chamarem a atenção (imaginem a comparação com nossas jovens). As casadas são coloridas, mesmo as mais pobres, muito coloridas. Mas é um povo sempre gentil. Cordato e lento. Nunca têm pressa, isto é, eles não entendem a pressa. Nunca nos sentimos ameaçados, mesmo quando caminhamos nos locais mais pobres. Vimos Indianas carregando coisas na cabeça, desde vasilhas com água até esterco de vaca, acho que seco.
Os odores da Índia. São muitos, variados e geralmente ruins. A Índia cheira a sujeira, pó, muito pó, poluição, suor, esgoto e merda mesmo. Mas, as vezes, raramente, cheira a flores, temperos ou incenso e é bom.
O Trânsito. É absolutamente caótico. Todos não respeitam as leis do trânsito (acho que as desconhecem) e buzinam o tempo todo, para se matarem menos. Há placas de trânsito mandando buzinarem, acreditam nisto? É contra a Lei não buzinar… A babel usada na locomoção é interessantíssima de ver e, por vezes, assustadora. Além dos carros, todos com batidas, existem milhões de tuc-tucs (que são uma vespa com uma mini-cabina para duas pessoas). Aliás estes são os táxis que vimos na rua. Só que em vez de ter o motorista e mais duas pessoas atrás, levam sempre um monte de gente. Chegamos a contar 13 pessoas, juro! Também carregam tudo o que existe. Os ônibus são muito velhos, quebrados, sujos, cheios, diferentes e coloridos. Também charretes conduzidas por homens, por cavalos (mais raras), por camelos e raramente por vacas. Milhares de bicicletas, pequenas motos e outros meios de locomoção fazem uma babel barulhenta e louquíssima. E, de repente, no meio disto tudo, passa um garboso Indiano montado num camelo, com toda a calma. No Rajastão ainda temos os elefantes no meio de toda a balbúrdia. Imaginem o que são as rótulas e os grandes cruzamentos: uma sobrevivência. Logo aprendi que o melhor é olhar para os lados e nunca para frente. Mas o pior são as vacas.Estas merecem um capítulo a parte.
As vacas. Como são sagradas, eles não as comem. Então elas se proliferam por toda a parte e andam soltas. Sim, como se fossem gente. Andam pelas ruas, naquele tráfego maluco. Convivem com as pessoas e vivem nos pátios das casas, nas calçadas, por todo lugar. Se alimentam do lixo, que é sempre abundante. As nossas vacas, nós as comemos e as alimentamos com comidinhas (pastagens) especiais. As deles são sagradas, mas vivem do lixo.
Os Animais nas cidades. São numerosos. Na cidade velha de Delhi e de Agra existem centenas de macacos, por toda a parte, alguns domesticados, outros não. Pássaros pretos e grandes, que custamos a descobrir que eram corvos. Muitos passarinhos. Cachorros, gatos, cavalos. Cabritos magérrimos e porcos gordos. Muitos esquilos nos parques. Camelos como animais de tração. No Rajastão, os Elefantes. Pombos por tudo. E vacas, claro. Todos os animais soltos nas ruas, no meio do trânsito. Nesta altura é bom informarmos que os Indianos são vegetarianos…
Os Monumentos. São impressionantes. Principalmente as Tumbas. Sim, os grandes monumentos são tumbas, mas com T maiúsculo. O Taj Mahal é uma tumba. Os palácios e fortalezas são lindos, mas mal cuidados e sempre sujos, é claro. As mesquitas não são tão bonitas, como em outros lugares. As tumbas são construções enormes e lindíssimas. No interior são pobres e contém apenas… a tumba. Mas freqüentemente somos obrigados a comparar as cidades da Índia com o Cairo. Difíceis de andar, mas com monumentos imperdíveis. O Taj Mahal, por exemplo, talvez seja a coisa mais bonita que já vimos até hoje. E também é enorme, parecendo maior que as basílicas católicas. Todo de mármore branco, ora trabalhado, ora com incrustações de desenhos floridos feitos com mármores de outras cores, que brilham no sol.
A Comida. É horrível. Gente, eu gosto de tudo. Não queria ir embora do Vietnã pela comida. Amo comida tailandesa ou os Din Sun chineses. Até comida japonesa. Mas a indiana é muito apimentada e tem gosto ruim.
O álcool. É caríssimo. Aproveitei para fazer uma desintoxicação.
A língua. Falam Indu entre si, mas todos falam alguma coisa de inglês. As castas mais altas falam inglês entre si. Mas parecem os portugueses falando português. Tem um acento fechado e comem letras e sílabas, ficando, às vezes, um pouco difícil compreendê-los.
Esporte. O que pensar de um País que o esporte principal é o Criquet. Nesta semana houve uma comoção geral e único assunto nos jornais e televisão, porque a Índia sofreu uma goleada do Sri Lanka (no Criquet é claro).
Os Hotéis. Os que ficamos são deslumbrantes. Luxuosos, com atendimento extremamente gentil. O serviço é só demoradinho. Quando cansamos da rua, voltamos para estes oásis de conforto, que nos lembram dos filmes como Lawrence da Arábia (embora aqui não seja Arábia).
As Cidades. Delhi é grande, tem 16 milhões de habitantes. Difícil de andar a pé, difícil de pegar táxi. Difícil para comermos fora dos hotéis. Enfim, difícil. A Old Delhi é a maior muvuca que se pode imaginar. Um grande lixão. No meio de toda a confusão tem prédios que devem ter sido muito bonitos, mas agora estão gastos e mal cuidados. No meio da confusão e caos total vemos banheiros abertos para a rua. Isto é se pode observar os cidadãos fazendo suas necessidades, o que aliás, eles não tem nenhum constrangimento. Os homens mijam aonde estão. Mas Delhi tem prédios bonitos e históricos. Tem muitos parques que são verdadeiros oásis. Tem a Tumba do Mahatma Gandi que é de uma doçura inacreditável. Tem monumentos e “portas” lindos. Já Agra não tem nada de bonito, aliás é horrível. Só os monumentos são lindos. E não é só o Taj Mahal. Jaipur, a cidade rosa é bem mais interessante. Tem um centro histórico todo rosa, que deve ter sido lindíssimo. Hoje completamente decadente e sujo, é claro. Tem um comércio de rua, nestes prédios, muito intenso. O famoso Palácio dos Ventos é lindo, está com a fachada intacta, mas decepciona um pouco, talvez por estar numa rua e não num parque.
Reveillon. O Ano Novo foi xoxo. Havia uma festa no hotel que estava sold out, para nossa sorte. Mas era uma festa chique para os locais. Os homens vieram de terno preto e gravata (aliás ninguém usa gravata e terno, por aqui). As mulheres jovens vieram vestidas de ocidentais, com minissaias. (também não havíamos visto até então). Ficamos na beira da piscina com uma Veuve Cliquot, que Ana havia trazido escondida em sua mala. A festa se animou um pouquinho às 23,30h e terminou às 00,20h. É uma gente pouco animada. Lá fora uns três foguetes. A maioria das pessoas não festeja a entrada do ano novo.
As vezes fico pensando e lembrando que , quando adolescente , gostava de trem fantasma e montanha russa. Acho que aquelas emoções ruins/boas são equivalentes às que temos tido aqui na Índia.
PS: Sair da Índia foi muito difícil. Nosso vôo de Jaipur para Nova Delhi atrasou 6 horas. O aeroporto era um caos, Filas, burocracia, policias. Nenhuma informação, não havia comida. Não havia lugares para todos sentarem. Nosso cartão de embarque foi carimbado duas vezes e vistoriado 6 vezes. É, para embarcar 6 pessoas olharam o cartão. Acho que é para dar emprego, mas fica um saco… Não perdemos a conexão porque o vôo de Delhi também atrasou. Em Delhi as condições do aeroporto eram piores. Mais gente, confusão total, nenhuma informação, filas nas comidas de cerca de 1h. É, para beber uma água, é preciso ficar 1 hora numa fila.
Bem… conseguimos sair e fomos para Dubai, uma ilha de fantasia.
Jorge Ilha Guimarães