Quando estamos sem uma ideia clara sobre nosso próximo destino, temos o hábito de perguntar por sugestões para nossa agente de viagens. Para as férias de 2014 ela nos sugeriu o Butão. Nepal e Butão, mais especificamente. Confesso que nem sabia direito onde ficava tal país. Fomos pesquisar e, de imediato, ele me ganhou pelo tal do Gross National Happiness(GNH) ou um índice de Felicidade Interna Bruta. Li que, em 2008, o rei Jigme Singye Wangchuck, adorado pelo seu povo, havia decretado que o país passava a ser regido por uma “Monarquia Constitucional” e, naquela ocasião, convocara eleições e estabelecera que as políticas públicas passariam a ser determinadas pelo GNH.
Para nós ocidentais, sempre tão submissos ao que acha “o mercado”, um país regido por essa orientação e ainda por cima emanada de um rei, convenhamos, logo atrai a atenção e aceitamos o plano de viagem proposto. Além disso, que país seria esse onde o esporte nacional é o arco e flecha e no qual todos os homens vestem uma espécie de sarong, chamado gho?
Partindo de Katmandu, no Nepal, através de um voo onde, em dias sem nuvens, se visualiza o Everest, acaba-se aterrizando em Paro. A pista é tão curta e fica em um vale tão estreito, que não se tem a ideia de uma aterrissagem, mas sim de um jogar-se no precipício. Parece, inclusive, que são poucos pilotos e de uma única companhia que têm autorização para esse desafio. Mas, ok, descemos.
O choque cultural ocorre logo na saída do aeroporto. Trata-se de um país limpo, absolutamente seguro, onde não se vê mendigos. As pessoas são alegres, todas falam muito bem de seu rei, o qual tinha sido colega de nosso guia na sala de aula do colégio. Convenhamos que para brasileiros é muita diferença de uma vez só.
Depois de uma viagem de carro, que durou cerca de uma hora, fomos recebidos num hotel, em Timphu, capital do país, que impressionou por sua imponência, a cordialidade do estafe e a cerimônia de boas vindas. Fora a suíte que nos reservaram, capaz de abrigar uma excursão inteira de japoneses!
Visitar Thimphu, Punakha e depois Paro é um privilégio. Seus templos budistas, seus monastérios, paisagens de tirar o fôlego e budas e mais budas. Recomendo vivamente essa visita, mas ela foi apenas a introdução para o grande desafio.
Antes de partir do Brasil, nos preparamos durante 4 meses para escalar a montanha, em Paro, que abriga em seu topo o Taksang Goemba ou Tiger’s nest, templo mais importante do Butão e destino de todos os budistas do país que lá têm que ir, pelo menos uma vez durante a vida. Nós também fomos.
Trata-se de uma empreitada que recomendo, daquelas de contar para os netos, mas não é fácil. A média das pessoas demora de 2 a 4h para subir. Nós fizemos em 2 e 1/2h, eu aos 64 anos. A cidade de Paro fica a 2.400m acima do nível do mar e o topo da montanha a 900m da base. São dois “Pão de açúcar” ladeira acima, mas se conseguir se despregar do cansaço físico, irá desfrutar uma das mais belas paisagens que já vi.
Saímos muito cedo para esse passeio sempre preocupados em usufruir a assim chamada golden hours para fazermos nossas fotos. Consequentemente fomos os primeiros a chegar no monastério naquele dia. Depois de uns 15 minutos que lá estávamos chegou um casal em óbvia lua de mel. Dei as boas vindas aos mesmos, em inglês e ficamos conversando um pouco sobre a dificuldade da empreitada. Em seguida me despedi e virei de costa. Aí ouvi o rapaz falar para sua jovem esposa: mas, bah, tchê, que senhor simpático! Virei-me para ele, sorrindo e respondi: já imaginaste se tivesse me achado antipático? Era um casal de Carazinho. Foi assim que naquele dia, os 4 primeiros turistas a chegar no Tiger’s nest eram procedentes do RS.
Durante o almoço, na metade do caminho de volta, perguntei para nossos guias do porquê para 2 turistas terem vindo 2 deles. Resposta: pois 60% dos turistas desistem antes da chegada. Aí um de nós retorna e o outro segue. Senti-me o máximo e orgulhoso da Ana, grande companheira de indiadas. Aliás, não só de indiadas.
Os guias nos recomendaram, no retorno ao hotel, que fizéssemos massagem com a ótima equipe de massagistas tailandeses de lá. Foi a primeira vez na vida que me submeti a uma massagem. O que achei dela? Não sei dizer, pois 5 minutos depois da mesma iniciar ferrei num profundo sono do qual despertei apenas quando fui acordado pelo alegre profissional. Seu comentário: o Sr. estava cansado, né?
Cansado e feliz.
Sérgio de Paula Ramos