Era 2005. Tokio é uma metrópole cosmopolita com a melhor comida japonesa e internacional. Mas estávamos em Asakusa, o bairro antigo e tradicional, conhecendo a verdadeira cultura do Japão e procurando emoções.
Era hora do almoço e vimos um pequeno local, num sobrado, que nos pareceu bem típico. “Aí iríamos comer a verdadeira comida japonesa”. E comemos.
Chegamos ao local, com pequenas mesinhas para dois e estava cheio. Uma senhora que era a maitre, garçonete e também limpava as mesas, e que provavelmente fosse a proprietária, imediatamente retirou dois jovenzinhos de uma mesa para sentarmos.
Ela só falava japonês e o pequeno cardápio era em japonês. Nos olhamos, e fizemos aquele tradicional gesto com os ombros, de quem não entendia nada. Ela nos olhou consternada com nossa ignorância e fez aquele tradicional gesto de ”deixa comigo, que sei o que será bom para vocês”. É claro que concordamos, com a cabeça, felizes.
Começamos com a tradicional cerimônia do chá. E pensamos “até aqui estamos nos dando bem”. Mas quando chegou a comida foi uma grande surpresa: veio um enorme aquário (como aqueles que tínhamos em nossas casas com um peixinho vermelho de rabo grande) onde na metade inferior havia arroz e na metade superior tudo que é tipo de peixe e crustáceos. Todos crus, é claro. A visão era maravilhosa.
Íamos começar a comer quando notamos que o prato fazia barulho. Uma espécie de barulho de mar. Achamos que era alguma tecnologia japonesa para manter o prato aquecido ou algo assim. Mas não era, pois a comida estava fria. Achando estranho o barulho, iniciamos a comer. Tudo estava delicioso. Salmão, tuna, barbatana de tubarão, conchas, etc.
De repente, vejo que uma pequena cobra que estava no prato se mexia. Tomado de pânico chamei pela senhora. Que quando viu o que era, abriu um largo sorriso e fez aquele gesto do que é delicioso. E agora comemos ou não. Fiquei com medo de que a cobra saísse do prato e viesse para o nosso colo.
Tomado de coragem, porque afinal eu era maior do que a cobra, a cortei bem no meio e olhei (cortei é modo de dizer, porque é óbvio que só tinha pauzinhos). Era bem branquinha e, neste momento, me pareceu uma guloseima. Experimentei e era excelente. Uma iguaria.
Como sempre, acompanhado de Ana Maria, que no momento que a cobra se mexeu, encerrou o seu almoço.
Mas o mistério do barulho continuava. Decidido a descobrir, comecei a observar todos os elementos do prato e nada…Já prestes a desistir, resolvi esgravatar o arroz, que até então não havia comido e, então, descobri.
Embaixo do arroz, como base do prato, havia uma quantidade de mariscos vivos, se mexendo e borbulhando. Daí o barulho de mar. Como imaginei que a senhora não teria posto nada no prato sem ter lavado antes, os comi e também estavam deliciosos.
Terminamos ! Eu de barriga cheia e parecendo que algumas coisas se mexiam dentro da minha barriga e Ana, menos cheia e nada se mexendo dentro.
Gente, que almoço ! Nunca mais vou esquecê-lo.
Em Janeiro de 2012, num avião da Thai, voando de Shanghai para Bangkok.
Jorge Ilha Guimarães